25 de novembro de 2013

Um dos destaques da última semana, projeto “Dobradinhas e outros tais” promove encontros entre artistas da nova música brasileira


Na última terça-feira, dia 19, o Rio de Janeiro ganhou uma ótima programação musical como presente de fim de ano. Se trata do projeto Dobradinhas e outros tais onde artistas da nova geração da música brasileira se encontram em duetos e tocam o que der na telha, além de apresentarem músicas do próprio repertório. O projeto foi ideia da DOBRA - comunicação e outros desdobramentos e visa "provocar o artista a olhar para o próprio repertório e pensá­-lo na execução do outro." Os encontros acontecem no terraço da Forneria Santa Filomena, na Praça da Bandeira, e conta ainda com exposições, projeções e DJs convidados. 

Os responsáveis pela abertura das atividades foram o mineiro César Lacerda e a irreverente Letícia Novaes, mais conhecida por seu trabalho a frente da banda Letuce. Segundo a própria DOBRA "cada noite conta com um artista que surgiu nos anos 2000 e que, a sua maneira, já estabeleceu seu público, ao lado de outro de um momento mais recente ­que se pode chamar de geração dos anos 10, ­cuja a expansão já pode ser sentida, mas ainda carece de fortalecimento."

Letícia Novaes surgiu da banda Letuce, em 2008. Ao lado do músico Lucas Vasconcellos, a cantora/compositora (que também é atriz) já lançou dois álbuns: o Plano de Fuga Pra Cima dos Outros e de Mim, em 2009; e Manja Perene, em 2012. Os shows com Letícia são sempre cheios de bom humor, colorido e covers/versões improváveis. Sua banda é independente: faz parte de uma geração onde os próprios artistas são produtores, assessores e criam novos meios de financiar e apresentar a sua arte. A cantora comentou a respeito em um jornal carioca"O Brasil é difícil, não existe educação estética na escola. Isso esvazia teatros e casas de show, cria um público zumbi viciado no igual, desconfortável com as diferenças. Isso tem consequências fortes pra gente, pois tira a autonomia criativa dos artistas, porque as crianças não crescem num ambiente que as estimulou a ter curiosidade. Não adianta dar dinheiro para o artista novo, se não vai ter público para ver o show desse artista. E isso leva tempo. E tudo tem que ser pra ontem. O trajeto é árduo, mas o prazer do palco e das vozes cantando em uníssono é maior que tudo. Só assim para viver nessa inconsequência maravilhosa."

E sobre este trajeto César Lacerda entende. O mineiro de Diamantina respira música desde sempre, mas foi em 2013 que finalmente conseguiu lançar seu álbum de estreia. Porquê da Voz traz 12 faixas autorais de "gente grande". E não é pra menos. César é filho de uma pianista, diretora do conservatório de sua cidade natal e irmão de um compositor de música clássica contemporânea. Começou com seus projetos aos 15 anos, com a banda cLAP! quando já morava em Belo Horizonte e não parou mais. Já trabalhou com nomes como Lenine, Graveola e Lixo Polifônico, e a cantora Luiza Brina. 

A dupla começou o show em torno de 21h20 mesclando momentos solo e de duo. Teve música dos Beatles e clássicos da MPB. Sobre a experiência, César comentou: "Fiquei bastante feliz em realizar este show! Primeiro pela possibilidade de uma aproximação com a Letícia, que tanto admiro pela coragem e despojamento artístico. Segundo pelo irrefreável desejo de tornar essa cidade mais habitável, mais real, mais nossa, e isso só se dará pelo encontro. E por fim, pelo projeto, que é bastante bonito e tem tudo para fazer parte do roteiro musical na cidade. O novo roteiro. A nova cidade." 

Nesse aspecto, o projeto também pretende abraçar o novo. "Num momento em que parte dos palcos da cidade parece ter esgotado seu ciclo, enquanto outros se reinventam, olhar para além das casas de show cariocas é essencial para a cultura musical no Rio. Sair da rota oficial dela, que vai da Zona Sul aos limites da Lapa, com algumas passagens pelo Centro, aparece como uma opção importante a ser feita. Por conta disso, a Dobradinhas se apropria temporariamente do céu aberto do terraço da Forneria Santa Filomena, na Praça da Bandeira. A fuga não é exatamente inauguradora. A proposta de se instalar na região remete aos tempos de grande movimentação do bairro, escorado principalmente no Garage, e se coloca como uma opção não só à Tijuca, mas à grande parte da Zona Norte e, claro, da Zona Sul, visto a proximidade com as estações de metrô."

O cenário estava convidativo: bolhas de sabão no ar, discotecagem do La Cumbuca Sistema de Som (Renato Otaner) e participação especial da lua cheia no céu. Além de música havia ainda uma exposição da fotógrafa Ana Alexandrino -- responsável por várias fotos de divulgação da própria banda Letuce --, projeções de Ava Rocha -- filha do cineasta Glauber Rocha que também canta e dirige videoclipes --, e um projeto interessante chamado Carimbaria: frases encontradas em documentos antigos (de autores desconhecidos) transformadas em carimbo.

O Clube da MPB vai marcar presença todos os dias fazendo a cobertura do evento e convida os leitores fazerem o mesmo; não só neste projeto mas em tantos outros que abracem a nova (e boa) música brasileira no intuito de estimular a vida cultural de sua cidade. A arte e os artistas agradecem. Prestigiem sempre!



[PROGRAMAÇÃO COMPLETA]
19 de novembro
Show: César Lacerda + Letícia Novaes

DJ: La Cumbuca Sistema de Som

Exposição: Ana Alexandrino

Projeção: Ava

Produtinhos: Carimbaria

26 de novembro
Show: Mahmundi + Qinho Soa Tempo

DJ: Moreira (Bootie Rio)

Exposição: Fernanda Ladeira

Projeção: Guigga Tomaz

Produtinhos: Avulsa Roupa Debaixo

3 de dezembro
Show: Castello Branco + Rafael Rocha

DJ: Jorge Lz (Geleia Moderna)

Exposição: La Negra de Goya

Projeção: Paula Dager

Produtinhos: Anouk Bags

10 de dezembro
Show: Lucas Vasconcellos + Brunno Monteiro

DJ: Bernardo Pauleira

Exposição: Vitor Jorge

Projeção: Lucas Canavarro

Produtinhos: Marceli Mazur

17 de dezembro
Show: Arthur Nogueira + Ava Rocha

DJ: Marcello H. (Sopa)

Exposição: Britta

Projeção: Filmes Duma Égua

Produtinhos: Orrevuá

Serviço
Dobradinhas e outros tais

Quando: dias 19 e 26 de novembro e dias 3, 10 e 17 de dezembro (sempre às terças)

Horas: a partir das 19h, com os shows acontecendo pontualmente às 21h

Onde: Forneria Santa Filomena – Rua Santa Filomena nº 10, Praça da Bandeira (ao lado do Aconchego Carioca)

Valor: R$ 10


(por Isabela de Sousa)