28 de janeiro de 2012

Roberta Sá e sua Segunda Pele: A protagonista do sonho alheio


"O resto é o resto e passa / O resto é espuma, é spam." 
(Carlos Rennó /  Gustavo Ruiz)


Roberta Varella de Sá, 31 anos, potiguar de nascença, criada no Rio de Janeiro. Este ano, completa 10 anos de carreira, iniciados no extinto programa "Fama". Com voz na trilha da novela "Celebridade", Roberta começou a formar público e conquistar crítica antes mesmo de lançar o primeiro CD. De lá para cá, um CD não oficial (Sambas e bossas), 3 CDs oficiais (Braseiro, Que belo estranho dia pra se ter alegria, Pra se ter alegria), um DVD (Pra se ter alegria - Ao Vivo), além do CD que surgiu como projeto paralelo com Trio Madeira Brasil (Quando canto é reza), mas tomou tamanha projeção que rendeu a cantora os prêmios de melhor CD de MPB e Melhor cantora de MPB do ano de 2010. 
E não para por aí, Roberta coleciona no currículo 2 discos de ouro, 2 indicações ao Grammy Latino, 2 prêmios concedidos pela Associação Paulista de Críticos de Arte, 5 músicas em trilhas sonoras de novelas/séries globais, 200.000 cópias vendidas e shows cada vez mais lotados por todo Brasil. 
Roberta Sá é conhecida não só por seu talento vocal indiscutível,  mas também por suas parcerias fortalecidas, por seu genuíno bom gosto na escolha do repertório e pelo poder agregador que possui.  A bela, agora mostra sua Segunda Pele, seu mais novo trabalho e nós estamos coladinho nesse lançamento.


Segunda Pele:

"Nada comigo é uma tendência, tudo é retrato de um momento. Prefiro errar mudando do que acertar fazendo a mesma coisa." (Roberta Sá)

Em seu 5°CD, Roberta Sá se mostra mais a vontade. A liberdade dá o tom desta Segunda Pele. Roberta ousa ao experimentar outras cores, texturas e sabores. E com seu refinado gosto, habitualmente conhecido, mais uma vez acerta. A nuance da sensualidade é revelada. O canto permanece suave, mas passa a ter ponta de veneno. As letras costuram com viés malicioso, de olhar contemporâneo. Os arranjos trazem o colorido e a mistura de sensações.
Por falar dos arranjos, estes, se mostram mais fortes que nunca. Com auxílio de Mario Adnet, da Orquestra Criôla e do sempre presente Rodrigo Campello, Roberta traz, com os sopros, a aura dos grandes cantores da MPB do século passado às músicas de compositores atuais. 
Este trabalho é audacioso. A cantora sai da sua zona de conforto e abraça outras possibilidades. Segunda Pele passeia faceiro pelo reggae, brinca carnaval ao som do frevo, flerta com a balada. O único samba tem ares dos salões de gafieira e dá a sensação de porto seguro no furacão das possibilidades.
A arte gráfica do CD, que ficou por conta de Giovanni Bianco,é conceitual, com fotografias excêntricas, mas o produto final é simplório.  Não traduz a excelência do CD. Uma pena!
A novidade neste trabalho são 2 faixas lançadas exclusivamente para o Itunes. "Mão e Luva" e "Deixa Sangrar" em versão remixada, são frutos da atual forma de distribuir música. E a estratégia deu certo. Roberta Sá é o único lançamento nacional na lista dos 10 mais baixados do Itunes, apenas 2 dias após chegar ao público.
Segunda Pele é sem dúvidas um CD primoroso e inteiramente forte. O patrocínio da Natura Musical permitiu dar asas às vontades de Roberta Sá e de seu produtor Rodrigo Campello agregando sonoridades e tornando plural este trabalho que foi um ótimo lançamento já no início de 2012. Para a música brasileira é a sensação traduzida nos versos de Moreno Veloso,Quito Ribeiro e Domenico Lancelotti entoados por Roberta: E a gente vê que tá com sorte, sente o gosto do que é bom!


Faixa a Faixa:
*para ouvir, basta clicar no título de cada faixa.

Lua (Mário Sevè/ Pedro Luis) - A abertura do CD já anuncia a novidade. Lua é um paradoxo sonoro que une a leveza dos sopros da Orquestra Criôla e a densidade percussiva da Parede.
Segunda pele (Carlos Rennó/ Gustavo Ruiz) -  A música tema do CD é sensual em letra, melodia e arranjo.
Bem a sós (Rubinho Jacobina) - De um dos compositores da nova safra da MPB, Bem a sós tem a alegria de um baile de carnaval com clima de flerte no ar.
O nego e eu (João Cavalcanti) - O único samba do CD tem características de samba antigo dos bailes de gafieira, porém com a temática atual. A ótica feminina tira do lugar comum este gracioso samba.
Altos e baixos (Lula Queiroga/Yuri Queiroga) - A música ressalta um cenário atual. Com a ironia e o bom humor do compositor, tudo fica leve e de fácil apreciação.
Você não poderia surgir agora (Dudu Falcão) - A primeira balada gravada por Roberta, é o ponto menos forte do CD. Tem letra fácil e apelo popular, sem ser popularesco. Com o luxuoso piano de Daniel Jobim ganha ares de bossa nova.
Esquirlas (Jorge Drexler) - A primeira investida da cantora em outro idioma, tem participação do próprio compositor. É apresentada como uma marcha de características também da bossa nova. Com letra forte, Esquirlas, é suavizada pelos arranjos.
Pavilhão de espelhos (Lula Queiroga) - O single lançado em novembro de 2011, com webclipe criado pelo patrocinador Natura Musical é sem dúvida a melodia mais bonita do CD. Com a kora de Ballaké Sissoko e o cello de Vincent Segal a música traz sonoridade inusitada e surpreendente.
No bolso (Pedro Luis/Roberta Sá) - A única composição da cantora também traz temática atual. Canta sobre a correria do cotidiano e tem arranjo alegre e despojado.
Deixa sangrar (Caetano Veloso) - O frevo Deixa sangrar confirma o ar carnavalesco do CD. Apesar de uma regravação dos anos 70, tem tema extremamente atual. A versão remixada lançada para o Itunes foi desnecessária.
A brincadeira (Moreno Veloso/ Quito Ribeiro/ Domenico Lancelotti) - Uma cantiga moderna, A brincadeira, tem clima de romance no ar: Leve, alegre e gostosa de se curtir.
No arrebol (Wilson Moreira) - a última faixa do CD é um jongo criado por Sr. Wilson, que ganha tom de reggae e atmosfera de um recanto tão sonhado para agitação contemporânea já cantada em outras faixas do cd.
Mão e luva (Pedro Luis) - Tradicionalmente conhecida na voz de Adriana Calcanhoto, é outra faixa feita exclusivamente para o Itunes. A canção de Pedro Luis torna-se irretocável e definitiva na voz de Roberta .

Mais sobre Roberta Sá: 

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Thaty Aguiar

22 de janeiro de 2012

Nara Leão. Por Toda Minha Vida



Reunimos os vídeos do programa Por Toda Minha Vida, dedicado a Nara Leão. Entrevista com artistas ligados a carreira e a vida de Nara. são trechos de entrevistas e depoimentos que formam uma espécie de biografia em vídeo.


Parte 1- depoimentos de Nelson Motta, Carlos Lyra, Chico Buarque, Roberto Menescal e o cineasta Cacá Diegues. Tem também um trecho da música João e Maria onde ela canta acompanhada por Dominguinhos.

Parte 2- depoimentos do escritor Rui Castro, a história sobre a origem do nome Bossa Nova, importância de João Gilberto e Tom Jobim, contém também o áudio da primeira apresentação pública de Nara Leão. O caso de Ronaldo Bôscoli com Maysa, na época ele estava noivo de Nara Leão.


Parte 3-  o fim do noivado de Nara com Ronaldo Bôscoli, o espetáculo "Pobre Menina Rica" estrelado ao lado de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes. A importância de Nara Leão para os compositores de morro que estavam esquecidos como Cartola, Nelson Cavaquinho e Zé Keti e o rompimento da cantora com a Bossa Nova. Além disso fala sobre o espetáculo Opinião, dirigido por Algusto Boal. (Depoimentos do jornalista Sérgio Cabral, Chico Buarque e Ferreira Gullar)

Parte 4- Nara Leão ficou afônica e escolheu Maria Bethânia pra substitui-la no espetáculo Opinião. O poema que Carlos Drummond de Andrade fez dirigido ao ministro do exército pedindo pra não prender Nara Leão. 1966 Nara Leão conhece Chico Buarque e se encanta com as músicas dele. Depoimentos de Zuza Homem de Melo, Manoel Carlos (autor de novelas). Chico Buarque comenta a música que fez especialmente pra Nara Leão cantar. "Com açúcar, com afeto". O casamento de Nara com Cacá Diegues.


Parte 5- A participação de Nara na Tropicália, o nascimento da filha Isabel Diegues na frança, Depoimentos de Isabel e Francisco Diegues sobre as lembranças de infância ao lado de Nara. *Filme Quando o Carnaval Chegar com Nara, Chico, Bethânia e grande elenco. Nara grava com o estreante Raimundo Fagner.


Parte 6-  Nara termina o casamento com Cacá Diegues, entrevista de Nara Leão com Leda Nagle sobre o disco que ela gravou só com músicas de Roberto e Erasmo.

Parte 7- Final. Em 1979 mãe de dois filhos, com 19 discos gravados e com uma carreira estável, Nara foi surpreendida com um tumor cerebral, enfrentou a doença e se tratou, gravou discos e fez shows no exterior, até que chegou numa hora em que não dava mais pra continuar. Nara Leão faleceu no dia 07 de junho de 1989, ao seu lado estava a irmã Danuza e a amiga de sempre Helena.

*Os videos acima são parte integrante do Programa "Por Toda Minha Vida-Nara Leão" pertencentes a Rede Globo.


  Homenagens em 2012
*Cássio Cavalcante, escritor cearense lança a biografia "Nara Leão, a Musa dos Trópicos" confira no vídeo abaixo a entrevista do escritor com a jornalista Mônica Silveira para o "Programa Papo Literário":

"Nara além de musa da Bossa Nova foi uma das principais personagens do Brasil na época em que ela viveu"

A obra, cujo texto da orelha é assinado pelo cineasta Cacá Diegues, ex-marido da cantora, com quem teve dois filhos, é resultado de uma década de pesquisas. Publicado pela Companhia Editora de Pernambuco (688 págs., R$ 50), o livro apresenta aspectos pessoais da vida de Nara. O autor pesquisou revistas, jornais e entrevistou pessoas ligadas à artista para recriar a trajetória da artista. “Nara foi à primeira cantora branca da zona sul carioca a revalorizar o samba do morro, foi à porta-voz dos intelectuais quando se tornou cantora de protesto”, destaca Cássio. 
* A filha de Nara Leão: Isabel Diegues lançou um site com documentos, vídeos, fotos e disponibilizou a discografia completa de Nara para streaming. Visite o site nesse linkSite Oficial de Nara Leão

21 de janeiro de 2012

Nara Leão. Uma cantora de Opinião.



Nara Leão (1942-1989) Foi uma das cantoras mais importantes da Música Popular Brasileira, recebeu o título de musa da bossa nova, o apartamento dos seus pais foi um dos berços da (Bossa Nova)  movimento musical que ganhou o mundo.

Muito mais do que musa da bossa nova, Nara foi a primeira cantora branca da zona sul carioca a revalorizar o samba do morro,  além disso foi à porta voz dos intelectuais quando se tornou cantora de protesto.

Nara lançou artistas como Chico Buarque e Edu Lobo, foi a primeira cantora consagrada que deu apoio ao movimento musical tropicalismo. Também foi a primeira a gravar um disco só de músicas de Roberto e Erasmo Carlos. Ainda foi a primeira artista brasileira a gravar no sistema de compact disc, o CD.


19 de Janeiro de 1942* Nasce em Vitória, capital do Espírito Santo, Nara Lofego Leão.

*1954 Nara ganha do pai o seu primeiro violão e passa a fazer aulas com o músico Patrício teixeira. Nessa época ela estudava no mesmo colégio de Roberto Menescal e, já com 12 anos, o apresentava em disco as novidades do Jazz-americano.

*1956 Nara se matricula na academia de violão de Menescal e Carlos Lyra, na rua Sá Ferreira.

*1957 Durante esse período ocorreram no apartamento de Nara as primeiras reuniões do grupo de jovens músicos que participariam da bossa nova.

*1958 Após contrair uma hepatite, Nara se ausenta do colégio por dois meses. Logo depois desse evento, larga em definitivo os estudos, no segundo científico. Durante breve período, trabalha como secretária de redação e repórter do "Tablóide UH" no Jornal "Última Hora"

*1959 no dia 13 de novembro estréia como cantora no show "Segundo Comando da Operação Bossa Nova", realizado na Escola Naval. Nara cantou "Se é tarde me perdoa" e "Fim de noite".

*1960 Nesse ano, começam a sair as primeiras  notícias na imprensa carioca sobre a Bossa Nova e o grupo de jovens reunidos nos apartamentos da Zona Sul, entre eles o de Nara. Ela participa de uma série de apresentações públicas e privadas, e é destaque com fotos em várias matérias jornalísticas.


A estréia profissional se deu quando, da participação ao lado de Vinicius de Moraes e Carlos Lyra na comédia Pobre Menina Rica (1963). O título de musa da bossa nova foi a ela creditado pelo cronista Sérgio Porto. Mas a consagração efetiva de Nara na música brasileira ocorre após o golpe militar de 64, com a apresentação do espetáculo Opinião, ao lado de João do Vale e Zé Keti, um espetáculo de crítica social a dura repressão imposta pelo regime militar.

Maria Bethânia, por sua vez a substituiria no ano seguinte, interpretando Carcará, pois Nara precisara se afastar por estar afônica naquele momento.
Nota-se que Nara Leão vai mudando suas preferências musicais ao longo dos anos sessenta, de musa da Bossa Nova, passa a ser cantora de protesto e simpatizante das atividades dos Centros Populares de Cultura da UNE. Embora os CPC's já tivessem sido extintos pela ditadura, em 1964 o espetáculo Opinião tem forte influência do espírito Cpcista

Nara Leão foi uma cantora versátil e que não se acomodou em um estilo, Além de Bossa Nova, Nara também cantou músicas de protesto e samba de compositores que na época estavam esquecidos, como: Cartola, Nelson Cavaquinho e Zé Keti.

Em 1966 interpretou a canção "A Banda" de Chico Buarque no "Festival de música Popular Brasileira" (TV Record), que ganhou o festival e o público brasileiro.

Nara Leão foi uma das primeiras interpretes a gravar Chico Buarque, a canção "Com açúcar, com afeto" foi feita sob encomenda pra Nara Leão. Veja no vídeo abaixo:



O Tropicalismo

Nara também aderiu ao movimento tropicalista, tendo participado do disco-manifesto do movimento: Tropicália ou Panis et Circensis, lançado pela Philips em 1968 e disponível hoje em CD.


Vejam no vídeo abaixo vários trechos de imagens com entrevistas e fatos que marcaram a carreira de Nara Leão. São pequenos recortes mas que ajudam a gente a entender melhor todo o contexto em que a música de Nara se encaixava, tem inclusive uma entrevista com Isabel Diegues, filha de Nara.



Vida pessoal:

Já separada do marido Ruy, de quem não teve filhos, Nara casa-se novamente, dessa vez com o cineasta Cacá Diegues, com quem teve dois filhos: Isabel e Francisco. No fim dos anos 1960, se muda para a Europa com o marido, permanecendo lá por dois anos, tendo morado na França, na cidade de Paris, onde nasceu Isabel, primeira filha do casal.

No começo dos anos 1970, ela volta para o Brasil grávida e nasce na cidade do Rio de Janeiro o segundo filho do casal, Francisco. Nessa época, decide estudar Psicologia na PUC-RJ. Nara planejava abandonar a música mas não chegou a deixar a profissão de cantora, apenas diminuiu o ritmo de trabalho e modificou o estilo dos espetáculos, pois era muito cansativa a vida de uma cantora, já que ela agora era mãe e casada, tinha que se dedicar mais aos filhos e ao marido e a música foi ficando em segundo plano. Apesar de Nara amar cantar, teve que fazer essa difícil escolha.


Confira no vídeo abaixo uma entrevista feita para o programa "MPB Especial" com Nara Leão exibidos no "Radiola" da TV Cultura.


Morte

Morreu na manhã de 7 de junho de 1989, vítima de um tumor cerebral inoperável aos 47 anos de idade. Ela já sabia do tumor, e sofria com esse problema havia dez anos. O tumor estava numa área muito delicada do cérebro, por isso ela não podia ser operada, sentia fortes dores e tonturas, e isso também foi um contribuinte pra ela tentar largar a carreira musical. O último disco foi "My foolish heart, lançado naquele mesmo ano, interpretando versões de clássicos americanos.

Após a morte

Em 2002 seus discos lançados anteriormente em LPs foram relançados em CDs em duas caixas separadas, uma com o período 1964-1975 e a outra 1977-1989, trazendo também faixas-bônus e um livreto sobre sua biografia.

Em 2007, a cantora Fernanda Takai gravou o disco "Onde Brilham os Olhos Seus", onde interpreta canções típicas do repertório de Nara Leão, fazendo assim uma homenagem.

Em 2012
O escritor cearense Cássio Cavalcante lança biografia de Nara Leão em Salvador, veja nesse linkNara Leão, a musa dos trópicos.

 Para comemorar os 70 anos da cantora, Isabel Diegues, lançou um site em homenagem à mãe, na qual disponibiliza sua discografia completa, além de fotos, vídeos, documentos pessoais e fatos marcantes de sua carreira e vida pessoal. Veja o site aquiNara Leão

O site UOL fez um paralelo entre as carreiras de Nara Leão e Elis Regina, que nesse ano está fazendo 30 anos de sua morte, vejam a matéria nesse link: Rivais na música, Elis Regina e Nara Leão compartilham data com homenagens desproporcionais



*"Agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim, pra lá deste quintal, era uma noite que não tem mais fim, pois você sumiu do mundo sem me avisar e agora eu era um louco a perguntar, o que é que a vida vai fazer de mim?"
*Trecho da canção "João e Maria" de Chico Buarque.

*"Sua voz quando ela canta, me lembra um pássaro, mas não um pássaro cantando, lembra um pássaro voando" Ferreira Gullar

Acesse também: O Canto Livre de Nara Leão
Fontes consultadas:

Site oficial da cantora Nara Leão: www.naraleao.com.br
Site Wikipédia ( Enciclopédia livre da internet)
*as fotos de Nara Leão foram tiradas do site oficial da cantora.

*Pra quem gosta de pesquisar a fundo a MPB, vale a pena visitar o Site Oficial da Nara Leão e ler as biografias disponíveis no mercado.



8 de janeiro de 2012

Chico Buarque. A Censura e a Volta do Exílio


No post anterior falamos sobre o começo da carreira de Chico Buarque e sua inserção na música através dos festivais dos anos sessenta, nesse post vamos falar um pouco sobre o momento político que o Brasil vivia e a transição para a década de setenta, eram tempos de ditadura militar e repressão aos artistas. 








A atuação de Chico Buarque esteve sempre na mira da censura. Alguns dias após a decretação do ato institucional n*5 o compositor é levado ao ministério do exército para depor sobre sua participação na passeata dos Cem Mil e sobre cenas da peça "Roda Viva" consideradas subversivas.

A passeata dos Cem Mil, que no dia 26 de junho de 1968 mobilizou cariocas de todas as classes, unidos em torno dos mesmos ideais, foi tematizada em nosso cancioneiro como "Dia de Vitória", dos irmãos  Marcos e Paulo Sérgio Valle.

"É que o povo acorda e vê que o mundo é seu e nas mesmas ruas onde faz as festas, hoje mão na mão faz o cordão do amor"

Em 1969, devidamente autorizado pelo Coronel Átila, de cuja permissão dependia para se ausentar do Rio, Chico Buarque viaja para Cannes, com o objetivo de participar da "Feira Internacional do Mercado de Disco" (Midem). Ao invés de voltar para o Brasil, segue para um auto-exílio em Roma.



Em Roma Chico escreve a letra de "Samba de Orly" cuja melodia lhe é oferecida por Toquinho, a música contou com a parceria de Vinicius, no verso "Pede perdão pela omissão um tanto forçada", vetado pela censura e substituído por "Pede perdão pela duração dessa temporada"
  "Pede perdão pela duração (Pela omissão) dessa temporada (Um tanto forçada) mas não diga nada que me viu chorando e pros da pesada diz que eu vou levando".



De volta ao Brasil em 1970 contratado por André Midani para o cast da Philips, Chico lança em compacto simples a canção "Apesar de você" cuja letra manifestadamente crítica à ditadura, na pessoa do governante, passou desapercebido pela censura. Após o disco atingir a vendagem de 100.000 cópias a música é proibida e os compactos são recolhidos das lojas. Mas a canção já estava na voz dos brasileiros.

  "Apesar de você amanhã há de ser outro dia, eu pergunto a você onde vai se esconder da enorme euforia".

O episódio que envolveu a liberação e a posterior interdição de "apesar de você" alertou de forma definitiva os censores para a assinatura de Chico Buarque. veja o clipe da música que retrata a situação caótica em que o Brasil vivia nesse período:



             "Apesar de você amanhã há de ser outro dia"




"Aniquilar o homem é tanto privá-lo de comida quanto privá-lo de palavra"
Walter Benjamim.



No próximo post sobre Chico, vamos falar sobre a obra dele nos anos 70, os discos antológicos e é claro vamos ter mais músicas relacionadas a ditadura e ao contexto histórico que o Brasil vivia nessa época. Acho importante fazer esse registro pra resgatar a memória da nossa música que foi totalmente influenciada pelo momento político que o Brasil estava vivendo.


A publicação deste texto foi autorizada pela autora, Heloisa Tapajós. Trata-se da reprodução de um trecho do ensaio "Chico Buarque e a Censura nas décadas de 1960 e 1970", que faz parte do acervo do Núcleo de Estudos em Literatura e Música (Nelim/PUC-Rio) e cuja versão integral pode ser acessada aqui:



Heloisa Tapajós é pesquisadora titular do Núcleo de Estudos em Literatura e Música (Nelim/PUC-Rio) e do Dicionário Cravo Albin da MPB.