29 de janeiro de 2013

Bezerra da Silva, o porta-voz da favela

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Bezerra da Silva nasceu no Recife no ano de 1927, se mudou para o Rio de Janeiro aos 15 anos de idade, fugindo da fome e da falta de perspectiva em sua cidade natal, vivendo lá até 2005, ano de sua morte. Na cidade maravilhosa encontrou trabalho na área da construção civil, não se pagava bem e muitas vezes passava o dia trabalhando sem dinheiro para comer. No Rio também encontrou espaço para criar seus sambas que serviam como uma válvula de escape diante de uma realidade nada fácil.





Sua história no mundo da música se inicia através de Jackson do Pandeiro. Em 1950 se torna ritmista da Rádio Clube, onde tocava tamborim, surdo e instrumentos de percussão, mas ele foi mais longe: estudou violão por oito anos e se tornou um dos poucos sambistas, naquela época, que sabia ler uma partitura.

Após muito trabalho e estudo Bezerra consegue lançar seu primeiro compacto, em 1969, o primeiro LP seis anos depois e daí em diante não parou mais. O porta-voz da favela, apelido que não foi dado à toa visto que a grande maioria de suas músicas eram compostas por gente do morro,  retrata em seus sambas a realidade de um povo, muitas vezes, marginalizado.  Ele não poupa esforços ao falar das injustiças sociais, o que fica claro na música “Vítimas da Sociedade”:

"Se vocês estão a fim de prender o ladrão. 
Podem voltar pelo mesmo caminho 
O ladrão está escondido lá embaixo 
Atrás da gravata e do colarinho"

Mesmo vivendo uma realidade cruel, onde muitas vezes não tinha o que comer ou que via amigos serem presos injustamente, o sambista conseguia manter o tom bem humorado presente nas canções que gravava, um bom exemplo aparece na música “Parabéns pra você meu Brasil”:

Roubam até da merenda de crianças carentes, minha Nossa Senhora!
Só não roubam São Jorge porque Ele mora na rua(lua?)

Na música “Se não fosse o samba” ele fala dos muitos momentos em que os moradores do morro eram presos apenas por serem da favela:
E toda vez que descia o meu morro do galo
Eu tomava uma dura
Os homens voavam na minha cintura
Pensando encontrar aquele três oitão
Mas como não achavam
Ficavam mordidos, não dispensavam,
Abriam a caçapa e lá me jogavam
Mais uma vez na tranca dura pra averiguação”

Bezerra da Silva é considerado por muitos como um “artista marginal”, pois desafia o sistema em que vive, denunciando e fazendo críticas sociais a respeito da sociedade brasileira.  Abaixo alguns trechos que exemplificam isso:
“Meu samba é duro na queda
Não é conversa fiada
É uma bandeira de luta
na vida da rapaziada
Sou porta voz de poetas
Que ninguém da chance  assim como eu
Uns vêm da favela, outros da baixada
Com esses talentos o meu samba venceu”

(Meu samba é duro na queda)

“Quem tem muito quer ter mais
E quem não tem mata pra ter
Trocando a paz pela guerra
pensando que vai resolver
Sei que a maré está braba
Mas tem muita gente na maré mansa
Sustentando cachorro a filé mignon
E vendo a fome matando criança”

(Raiva de tudo)
"Se elegeu com votos da favela,
depois mandou nela
metê bala,
isso é que é ser canalha..."
(Verdadeiro Canalha)

"Por que é que o doutor não prende aquele careta

que só faz mutreta e só anda de terno
porém o seu nome não vai pro caderno
ele anda na rua de pomba-rolô
A lei só é implacável pra nós favelados
e protege o golpista
ele tinha que ser o primeiro da listas
e liga nessa doutor!"
(Se liga Doutor)
Muitos dizem por aí que Bezerra era à frente do seu tempo, acredito nisso quando penso em sua coragem em criticar sem papas na língua o que muita gente engolia calado, mas de uma coisa é certa, infelizmente os problemas daquela época continuam fazendo parte do nosso dia a dia, e é por isso que não me canso de ouvir suas músicas. Vejam esse trecho da música “Candidato caô caô” e me digam se não é superatual?!
Ele subiu o morro sem gravata
Dizendo que gostava da raça
Foi lá na tendinha
Bebeu cachaça
E até bagulho fumou
Jantou no meu barracão
E lá usou
Lata de goiabada como prato
Eu logo percebi
É mais um candidato
Às próximas eleições
Falcão, Bezerra e Marcelo D2
Assista um tributo feito a Bezerra da Silva:


E também a apresentação dele no programa Viva Brasil:


Bezerra nunca foi um músico aclamado por todos, é mais do tipo que se ama ou odeia, mas tem um grande e fiel público, além de uma vasta obra, confira a discografia completa do mestre:
·         (2005) O samba malandro de Bezerra da Silva • Sony/BMG • CD
·         (2004) Pega eu • Som Livre • CD
·         (2004) Caminho de luz • Independente • CD
·         (2003) Meu bom juiz • CID • CD
·         (2002) A gíria é a cultura do povo • CD
·         (2000) Bezerra da Silva ao vivo • CID • CD
·         (2000) Malandro é malandro e mané é mané • Gravadora Atração Fonográfica • CD
·         (1999) Eu tô de pé • MCA • CD
·         (1997) Presidente caô caô • BMG Ariola • CD
·         (1997) Bezerra da Silva comprovando a sua versatilidade • Rhythm and Blues • CD
·         (1996) Meu samba é duro na queda • RGE • CD
·         (1995) Bezerra da Silva contra o verdadeiro canalha • RGE • CD
·         (1995) Moreira da Silva, Bezerra da Silva e Dicró-os três malandros in concert • Sony Music • CD
·         (1992) Presidente caô, caô • CID • CD
·         (1990) Eu não sou santo • RCA Victor • LP
·         (1988) Violência gera violência • RCA Victor • LP
·         (1986) Alô malandragem, maloca o flagrante • RCA Victor • LP
·         (1985) Malandro rifle • RCA Victor • LP
·         (1983) Produto do morro • RCA Victor • LP
·         (1980) Partido-alto nota 10 Volume 3 • LP
·         (1978) Partido-alto nota 10 volume 2 • CID • LP
·         (1977) Partido-alto nota 10 volume 1 • CID • LP
·         (1976) Bezerra da Silva, o rei do coco volume 2 • Tapecar • LP
·         (1975) Bezerra da Silva, o rei do coco volume 1 • Tapecar • LP
·         (1969) Mana, cadê o boi?/Viola testemunha • Copacabana Discos • Compacto simples