O Clube da MPB conversou com Valéria Lobão, confira o bate-papo.
O Clube da MPB acredita que tudo que é muito bom, merece e tem que ser dividido! Por isso, convidamos vocês, amantes da boa música brasileira a conferir a conversa que tivemos com a cantora, carioca, Valéria Lobão. Valéria vem desenvolvendo um trabalho belíssimo, que vale muito a pena conhecer a fundo. Vem com a gente, temos certeza que você também vai se encantar com o som da moça.
Valéria, há quanto tempo você trabalha com música?
– Profissionalmente,
desde o início da década de 90, quando comecei a fazer coro em
gravação. Em 92, ingressei no Grupo Vocal Equale, onde permaneci
até 2007.
Como e quando, foi que você descobriu que queria ser cantora?
– Aos
15 anos descobri minha voz musical. Foi uma tremenda revelação.
Desde
então, nunca mais parei de cantar.
Quantos
discos lançados? – Com
o Grupo Equale, foram dois cds: Expresso Gil (2000), só com
músicas do Gilberto Gil e Um gosto de sol (2004), só com músicas
do Milton Nascimento, que, aliás, fez uma linda participação na
faixa Vera Cruz. Só em 2011 lancei o meu primeiro cd solo, CHAMADA.
Neste
momento, estou em fase de produção do meu novo cd. Vai ser um cd de
voz e piano, com 1 pianista por faixa.
Falando no álbum “Chamada”, ele foi pré selecionado para o Grammy Latino de
2012. Fala um pouco desse disco, da proposta dele. – Fazia
tempo que eu queria gravar um disco, mas faltava coragem e um
pouquinho de dinheiro. Então, eu só protelava. Daí, aconteceu um
fato que foi determinante: eu engravidei. Mas, tive uma ameaça de
aborto e, pra que a minha filha pudesse nascer, precisei fazer 3
meses de repouso absoluto. Ali naquela cama, pensando em como seria
colocar um filho no mundo, eu fui me enchendo de coragem e foi dando
uma vontade imensa de deixar uma marca. Uma espécie de herança
musical. Queria que minha filha soubesse da paixão que a mãe tem
pela música. Foi nesse momento que comecei a produção do disco.
Só que o resultado foi muito além do desejo inicial. Não pensei
que tanta gente maravilhosa participaria do cd. Músicos que eu tanto
admiro! Parecia um sonho! Foi um
feliz encontro de arranjadores, compositores e instrumentistas, com
Produção Musical primorosa do Carlos Fuchs, meu companheiro de vida
e de sonhos e pai dos meus filhos. (pois é, ainda durante o processo
de produção do cd, tivemos mais um filho). E, pra completar, a
participação especial do Gilson Peranzzetta, Pedro Luis e A Parede,
Marcos Sacramento, e do meu grupo vocal predileto – Equale. Foi um
grande mutirão sonoro! Em 2010, quando eu já estava finalizando as
gravações, o cd ganhou um Prêmio da Funarte, concorrendo com 800
projetos. Em 2011, fui contemplada no Edital do BNDES e depois veio a
boa notícia da Pré-seleção no Grammy Latino 2012.
Nesse
disco você cantou feras como, Zé Paulo Becker, Rodrigo Maranhão,
Marcos Sacramento e Aldir Blanc. Como foi feita essa escolha?
– Primeiro
eu resolvi que seria um cd com músicas dos meus talentosos amigos.
Todos, compositores cariocas contemporâneos. Então, passei a mão
no telefone e comecei a pedir música - Marcos Sacramento, Zé Paulo
Becker, Antonio Saraiva, Luiz Flavio Alcofra, Jayme Vignoli, Lili
Araujo, Paulo Baiano, Gilson Peranzzetta, Raphael Gemal e muitos
outros. Foram 2 anos, pesquisando e ouvindo, pra selecionar somente
13 canções. Escolher o repertório foi a parte mais difícil do
processo. Era muita coisa boa! E de quebra, vieram as parcerias Zé
Paulo Beker com Paulo Cesar Pinheiro (Jongo de vovó); Luiz Flavio
Alcofra e jayme Vignoli com Aldir Blanc (oração perdida). A música
do Rodrigo Maranhão, eu achei numa fita cassete. Ele cantando e
tocando violão. Nem tinha nome. Quando liguei, dizendo que queria
gravar, ele disse que tinha catalogado todas as suas composições e
que essa tinha sido esquecida. Um verdadeiro achado! O Antonio
Saraiva fez Ritual Profano especialmente para o cd. E quando eu e o
Carlos Fuchs pedimos para o Peranzzetta uma letra em português para
a música dele e do Dori Caymmi - Obsession (gravada pela Sarah
Vaughan em 87 – no LP Brazilian Romance), ele disse que só poderia
ser feita pelo Paulo Cesar Pinheiro. E assim, eu ganhei mais uma
letra inédita do P.C. Pinheiro. E, eu não podia deixar de cantar
Milton Nascimento (que é carioca, da Tijuca).
Você
também compõe?
– Ihhh…
só escondida. Tenho algumas letras, mas não gosto de mostrar pra
ninguém.
Eu
componho muito pouco. Quando a inspiração vem, fico burilando a
letra durante muito tempo. As vezes, a música vem junto. Mas ainda
não tive coragem pra gravar composição minha.
Você realiza algum "ritual" antes das apresentações?
– Gosto sempre de aquecer a voz com
exercícios que aprendi com o meu professor de canto – Felipe Abreu
e com a fonoterapeuta - Ana Calvente. Meus dois anjos da guarda.
Sua principal fonte de inspiração?
Sua principal fonte de inspiração?
– Milton
Nascimento, sempre.
Quais
as suas principais referências, Valéria?
– Tudo
o que eu ouvi, certamente contribuiu pra minha formação musical.
Mas as principais são: Joyce, Fátima Guedes, Marcos Sacramento, Ná
Ozetti, Mônica Salmaso, Elis, e, mais recentemente, me encantei com
duas vozes gaúchas. Duas irmãs que fizeram dois lindos cds. Cada
qual com a sua linguagem: Graziela Wirtti e Nina Wirtti.
E,
pra fechar a lista, a minha inspiração maior: Milton Nascimento.
Eu
era menina quando ouvi o LP Geraes. Aquele disco mexeu comigo
profundamente. Os arranjos, a voz, a estética, as composições.
Aquela música mudou completamente o meu horizonte. Aos 14 anos eu
dizia aos meus pais que ia casar com o Milton. Casei com a música
dele. Gosto de imaginar que ele vai ouvir tudo o que eu canto.
Que
disco(s) você tem escutado em casa?
– André
Mehmari e Ná Ozetti, Rio,
do Keith Jarrett, Joana
de Tal, da Nina Wirtti. Vários
da Palavra cantada (Meus filhos amam e eu também) Sky
Blue, da Maria Schneider
E
dois cds que foram gravados na Tenda da Raposa, e que eu só posso
ouvir escondido, pois nem foram lançados, ainda: de um trio -
Yamandu Costa, Guto Wirtti e Arthur Bonilha - e o da cantora Graziela
Wirtti com o violonista Matias Arriazu.
"Curiosidade: Valéria contou pra gente que o cd CHAMADA foi produzido, gravado, mixado e masterizado pelo Carlos Fuchs, no estúdio deles, Tenda da Raposa. Eles não dispunham de dinheiro para essa produção. Então, criaram a moeda hora-estúdio. E assim, cada um que participava do cd, ganhava em troca, hora no estúdio pra gravar seus projetos. Foi dessa forma que ela pode cintar com a participação de mais de 50 músicos, 8 arranjadores e, de quebra, contribuiu pra fomentar a produção de vários projetos musicais. "Estamos pagando o cd até hoje, com o maior prazer." Disse Valéria."
Valéria Lobão é, sem duvida, uma cantora especial. Traz em seu trabalho a doçura e leveza de sua voz e a elegância, característica de sua interpretação. Criando algo maravilhoso de se ouvir.
Ouça "Fubá" uma das faixas do disco "Chamada":
Ouça "Fubá" uma das faixas do disco "Chamada":
Atualmente Valéria está em fase de produção do seu segundo disco, que será inteiramente dedicado a canções de Noel Rosa. Isso significa que logo, logo teremos mais novidades, deliciosas, de Valéria Lobão pra curtir.
Confira um pouquinho do que está sendo preparado para esse novo álbum: