11 de outubro de 2012

A Elegância e a delicadeza de um gênio do Samba.

"Cartola não existiu, foi um sonho que tivemos"
Nelson Sargento



Poucos nomes na história da MPB conquistaram lugar de tamanho destaque e respeito como Angenor de Oliveira o "Cartola" que se estivesse entre nós estaria completando hoje 104 anos. Amado e admirado por todos nesse e em outros países, sua música não sacia somente o ouvido, mas a mente, o coração e nos enche a alma!

A poesia trasborda com extrema naturalidade e leveza de suas  letras doces e sinceras, Nunca teve pudor ou medo de cantar seus amores, sua principal inspiração eram as mulheres, presentes em quase todas as suas canções, além da vida na comunidade onde ficou famoso e que tanto amava a Mangueira, apesar de não ter vivido lá a vida toda.

 Falar de Cartola sem citar a Mangueira é algo impossível, lá  Participou da formação do Bloco dos Arengueiros, em 1925, que  foi por muito tempo o coração da comunidade, anos depois em 1929  participou da fundação da escola de samba "Estação Primeira de Mangueira", e foi ele quem sugeriu que aquela agremiação tivesse as cores verde e rosa que hoje são conhecidas mundo à fora.

Foi lá também que Cartola viveu por anos com um dos grandes amores de sua vida, Deolinda, uma mulher sete anos mais velha, que abandonou um casamento para viver ao seu lado.

Depois disso Angenor mudou-se da Mangueira e mais de uma década depois vivendo já com seu outro grande amor, Dona Zica, abriu com ela o restaurante Zicartola, na Rua da Carioca, Centro do Rio. E o restaurante tornou-se página fundamental para a música popular brasileira, Tornando-se pondo de encontro de grandes sambistas, foi lá que Paulinho da Viola começou a se apresentar para o público.

E vocês sabem de onde veio o apelido "Cartola"?
Ele ganhou o apelido pelo qual ficaria consagrado, de seu amigo que zombando de sua vaidade, pois, para evitar que o cimento caísse nos cabelo, passou a usar um chapéu- de- côco que os colegas diziam ser uma cartolinha, começando assim a chama-lo de "Cartola"
Discografia:






Ao ouvir sua obra, a impressão que fica, docemente acentuada, é que compunha com tanta naturalidade e pureza que as letras parecem ter surgido fáceis, deslizando direto de sua alma para o papel.

Sobre Cartola:
"Cartola não existiu, foi um sonho que tivemos"

Nelson sargento.
A música de Cartola é pura elegância. Ou seja, se elegância e classe pudessem ser medidas em traje inglês formal, à cartola do Cartola só faltariam mesmo a luva e o “smoking”.

Ricardo Cravo Albin


 "A delicadeza visceral de Angenor de Oliveira (e não Agenor, como dizem os descuidados) é patente quer na composição, quer na execução. Como bem me observou Jota Efegê, seu padrinho de casamento, trata-se de um distinto senhor emoldurado pelo Morro da Mangueira. A imagem do malandro não coincide com a sua. A dura experiência de viver como pedreiro, tipógrafo e lavador de carros, desconhecido e trazendo consigo o dom musical, a centelha, não o afetou, não fez dele um homem ácido e revoltado. A fama chegou até sua porta sem ser procurada. O discreto Cartola recebeu-a com cortesia. Os dois conviveram civilizadamente. Ele tem a elegância moral de Pixinguinha, outro a quem a natureza privilegiou com a sensibilidade criativa, e que também soube ser mestre de delicadeza".

Carlos Drummond de Andrade.


Fonte: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Visite o site pelo link:

Assista na íntegra o programa Ensaio/1974. Com Cartola e Leci Brandão: