29 de maio de 2012

Gal Costa. "O Autotune Não Basta"

Gal é uma das maiores vozes do Brasil. Não adiantam comparações, ninguém toma o lugar de ninguém. E esse é o lugar dela, já faz tempo.

Surgiram muitos comentários sobre o show de estréia do CD Recanto em SP, dia 24/05, devido ao fato dela ter desafinado em algumas músicas. E a quantidade de comentários já era absolutamente esperada. Afinal, sempre esperamos a perfeição dessa voz que já marcou tantos acontecimentos na história da música no Brasil.

Mas que fique claro:  Gal Costa não estava simplesmente resfriada. Foi um problema grave, uma forte faringite. Ela até teve que tomar uma injeção na sexta-feira (25/05) de manhã para melhorar a voz, já que teria que se apresentar para o segundo show em SP.


Eu estava presente neste segundo show, que foi emocionante, como sempre é qualquer coisa envolvendo Gal Costa. Mas posso dizer que a apreensão por causa da afinação dela tornou o espetáculo ainda mais comovente.

Ela entra no palco, mas ninguém vê. Tá tudo escuro e a gente só percebe que ela tá ali porque ela começa: "Foi um pequeno momento, um jeito,uma coisa assim" . É com "Da Maior Importância" que começa o espetáculo da maior voz do Brasil.

O  esforço para atingir os agudos era visível desde o começo do show e a vontade de superar os obstáculos também. Tanto que a plateia se tornou cúmplice. A cada batalha enfrentada entre a vontade de acertar e o medo de desafinar , o que se via era um público carinhoso, compreensivo. 


Em "Autotune Autoerótico", a plateia nem esperou o fim da música para começar a aplaudir e gritar. Muita gente aplaudiu de pé. Isso porque a música traduz exatamente o que todos sentem. Que "Não, o autotune não basta pra fazer o canto andar pelos caminhos que levam à grande beleza". É isso mesmo: nenhum recurso tecnológico será capaz de substituir a voz na função de tocar o sentimento das pessoas.

Caetano Veloso sentiu mais ou menos a mesma coisa, e escreveu na sua coluna para O Globo (que pode ser lida aqui ) sobre a o sentimento intenso entre a plateia e a cantora em São Paulo.



O álbum, lançado no fim de 2011,  composto e produzido por Caetano, causou muita polêmica, tanto por parte dos fãs, quanto pela crítica especializada. 


O motivo da discussão foi o fato de Recanto ter uma pegada mais eletrônica, mais moderna. Muita gente não conseguiu associar o nome Gal Costa a uma música inspirada no funk carioca, como no caso de Miami Maculele, por exemplo. 


Mas a plateia  presente no HSBC Brasil era das mais receptivas possível.
Eu percebi que muita gente que estava sentada perto de mim, não tinha ouvido o novo CD, só estava lá pelo nome, pela estrela de outros tempos. Então, fiquei atenta para perceber a reação do público com as novas músicas. Felizmente, notei que a maioria gostou e  se divertiu com essa nova Gal. Em "Neguinho", por exemplo, ouvi muitas risadas de pessoas que, provavelmente, nunca tinham ouvido a música e se encantaram com o tom de deboche.  Aliás, na minha opinião, “Neguinho”  é  a música do novo disco que mais deu certo nos shows.  O retorno da platéia é incrível!
Mas é claro que quem estava lá só por causa dos clássicos, não foi para casa insatisfeito, já que o repertório contou com a interpretação de vários sucessos, como “Folhetim”, “Divino Maravilhoso”, “Barato Total” e “Força Estranha”.

Vi muita gente se emocionando, chorando, em todos momentos. Um ponto alto, foi quando ela interpretou Um dia de Domingo imitando o Tim Maia, com a voz grave. Ficou muito parecido, de verdade. A música já é linda, mas se tornou mais ainda, porque se transformou em uma homenagem de Gal (e Caetano, que foi quem deu a ideia) para Tim Maia.

Enfim, acho que dá pra perceber que as apresentações do Recanto aqui em SP podem ser resumidas em uma palavra: emoção.
E aos que moram em outras regiões do Brasil que não fazem parte do circuito-de-sempre dos shows (SP-RJ-BH-POA-Recife), a boa notícia: Gal já declarou que quer se apresentar por todo o Brasil. Então já vão preparando o coração (e o bolso, né!), porque esse é um show daqueles que mexem com a gente. É um show que envolve toda uma trajetória de amor à música, de amor à arte de cantar.


E quem ainda tiver dúvidas de que vale a pena assistir ao show, compartilho o setlist:




Texto escrito por @brendaamaral